24.10.06

ainda que tarde

ainda era cedo quando levantei. olhei para aquelas nuvens no céu; pareciam ter um novo tom hoje. o branco, que sempre foi bem branco, hoje tinha uma ponta de cinza amarelado. e nas curvas de cima não pareciam mais com algodões. seria mais fácial compará-las com fumaça logo, já que a dimensão sólida havia se perdido.
fiquei muito tempo deixando os olhos se cansarem dos seus lentos movimentos.
quanto demoraria uma nuvem para atravessar meus pensamentos?
pra onde vai tudo isso?
essa possibilidade de chuva, essa tormenta, os furacões.
porque aqui eles nunca caem, já repararam?
decidi, então, investigar essa coisa do sumiço.
pra onde vão as nuvens, quando não chovem?

foi então que passou pela rua o caminhão de lixo. muito barulho, mas nem assim eram trovões.
os trovões estão lá, escondidos. em algum lugar perto de onde as nuvens tecem o céu.

quando eu crescer eu quero um vestido-nimbo.

13.9.06

nublada

tenho dentro de mim essas libélulas acessas.
hoje pela manhã cavei um buraco onde, outrora, havia escondido as minhas palavras.
elas não estavam mais lá.
libélulas, procurem!
onde está o meu poema? a minha sede? a minha úlcera?
na minha casa é assim: dentro das paredes mora um anjo que roubou meu coração.
e se essa rua fosse minha, eu já estava longe.
fico aqui por medo. medo de que minhas libélulas me abandonem.
mas tudo certo: fecho os olhos e vejo o mundo que me deixam ter.
gosto dos meus sussurros e da forma com que eles me tiram da cama.
tenho dentro de mim essas libélulas acessas.
e a minha vontade é de rasgar o estômago e ver que, junto ao sangue, as asas das libélulas ainda batem.

7.7.06

por mais que

eu sente aqui e te peça para adorar todos esses fatos que bem amarrados se transformam em minha vida por mais que eu queira isso e eu quero mais do que tudo nesse momento por mais que eu deseje que tudo isso mude e vire outra coisa no final por mais que eu esteja e não queira estar também e você sabe muito bem por quantas vezes nós podemos estar sem estar estando e eu queria hoje talvez falar de uma outra coisa que não me sai da garganta sabe? dessas coisas que por alguns minutos tiram a gente do ar e de brinde te dão um espetacular olhar estrangeiro sobre todas as coisas e todas essas coisas de alguma forma te atingem e fazem daquilo tudo uma coisa bem estranha.
por mais que você não note.