31.7.09

May day

Hoje acordei brincando de dezembro. Me cansei dos ônibus, da chuva, do frio.

Me senti sexy e poderosa do alto do meu mau-humor. Gritei com umas vinte e cinco pessoas diferentes. Uma delas não merecia. E gritei mais alto por isso.

Andei rápido, perdi a hora, esqueci quase uma vida em casa.

Me lembrei de tudo, apaguei metade. E tem sido assim nesse meio de ano tão covarde.

Meu período fértil, minhas roupas fora do armário, minhas fotografias sem photoshop, meus escritos em guardanapo, meu pai sem visita, minhas festas adiadas, minhas olheiras, meus sonhos interrompidos, minha tosse.

Tudo engasgado, engavetado, sujo, amassado.

Me cansei de ser essa que adia minha alegria.

Não sei como eu sobrevivo a mim.

30.7.09

Anfitriã

Esteve aqui, me leu por dentro, me invadiu as frases.
Não convidei, não chamei.
E agora já me sabe assim:
nua.
Logo eu, anfitriã de tantos vícios, dona de tantos cômodos públicos.
Ainda me surpreendo com uma visita para o chá.
Não te ofereço biscoitos, mas te mostro meu mundo em carne viva.
E, se gostar dele, volte sempre.

24.7.09

Sexta-feira

É como se hoje não bastasse em mim.

A quinta-feira me transborda.

E anoiteço sábado.

23.7.09

Quinta-feira

Hoje acordei com cinquenta e sete novos sorrisos.

E são todos seus.

14.7.09

Não se afobe, não, que nada é pra já.

Do alto do prédio eu te enxergo de costas.
Você é alto. Você sorri. Você sorri muito, muitas vezes. Como se o seu sorriso fosse sua forma de conversar com o mundo.
Você quase não fala, e quando fala o seu tom de voz é único. Quase uma cantiga, assim, no meu ouvido.
Seus movimentos são calmos. Seu corpo é preciso, desenhado. Ele tem a altura exata que me toma quando estou distraída.
E você me olha no olho. Num lugar que a gente não conhece, nem tem pressa de conhecer.
Eu fico te olhando de longe, do alto desse prédio que, hoje, me impede de chegar mais perto.
Eu observo seu caminhar, seu jeito de sentar, de olhar pra cima e pra baixo, como quem procura outro mundo. Observo seu ritmo calmo, contrário ao meu.
Te olho daqui enquanto meu corpo ferve nessa espera curiosa. Espera que eu escolhi a dedo e guardei no bolso.
Não sei quem você é. De onde vem. Eu não sei se você fala dormindo, se come carne, se gosta de vinho, se chora vendo filmes de amor, se quer filhos.
Estou do outro lado da vida que te conhece. E não quero mais que isso.
Te quero assim: logo antes de chegar. Quero sentir esse espaço que existe entre nós. Essa bolha com gosto de frio na barriga. Esse "eu" e "você", tão estranhos.
Quero sentir o instante logo antes da queda. Logo antes que eu me lance.
Logo antes que eu me jogue do alto desse prédio de onde te enxergo longe.
E aí vou. De cabeça, velocidade rápida, escuridão clara, coração na boca: eu, logo antes de ser sua.