18.12.08

profilaxia

será que hoje
você pode
me dar um abraço
bem apertado
e dizer assim no meu ouvido
"a vida é grande, vamos lá"
e me segurar forte, forte
com medo mesmo que eu saia
mas eu não saio
e você fica
e me diz coisas
e me convence
que isso tudo vale à pena
.

27.5.08

estômago

começa na ponta do pé. e fica lá um tempo, descansando da vida, dos medos.
paquerando os dedos e o peito do pé, essa coisa que planta a gente no mundo.
às vezes pega pelo cabelo também. e pelas pernas. muitas vezes pelas pernas.
mas não é nem na cintura e nem na nuca.
não é naquela curva do pescoço. não é nas costas. não é na boca.
é bem no meio da minha barriga que você mora.

1.4.08

primeiro ato

pra falar da alma queria ter dedos de mel.
queria a sutileza de uma pele clara, sem passado, sem calo.
queria ser sem partida nem chegada: eu, desenlaçada.
senhora de mim, pedaço de rua sem estrada.
pra falar da alma queria eu ser solilóquio, diálogo interrompido, monólogo das águas.
eu, que sou só gole.
antes assim: perpetuada.
minha mise-en-scene construída. cortina tombada.
pra falar da alma eu queria ter nas mãos o que deixei na casa antiga: meus anos, minha fé, eu mulher adormecida.
mas o que vejo é só isso: escombros, sangue e músculo.