18.6.09

Maré

Todos esses sais dos dias corridos. Essas juras, essas promessas que os minutos sacanas fazem dentro da gente. Esse jeito cego de arriscar tudo. De jogar tudo. De dormir no precipício.
O frio na barriga de olhar pra frente e ver a cortina do palco fechada. Mas ainda assim o desejo dos aplausos. E o pavor das vaias.
Essa vontade que não termina. E que não se sabe de que, de quem, de quando.
Essas manias que a vida tem de atar e desatar nós apertados quando o tempo engasga.
Esse truque mudo que a gente tem de não desistir nunca.
Se te parece pouco o que vês em volta, olha de novo.
De algum canto desse buraco escuro pula um rio, um mar. Alguma água que te leve dessa terra, nada mãe.
Confia no teu redor que, se não parece muito amigo, te engana pra te alcançar.
Confia nas marés, nas luas, nos sinais. Confia em tudo que não se sabe explicar.
Porque é daí que vem tudo que a gente inventa e costura com mãos de sonho.