17.10.07

naufrágio

- amanhã eu te ligo. tchau.

você fecha a porta e já não vê o rosto dela. você olha para a porta fechada por uns dez minutos, mais ou menos. você abre a porta. ela não está mais lá.
dentro de casa você anda em círculos. esbarra na bagunça vez por outra. são cadernos, caixas, papéis rasgados, cadeiras tombadas.
você caminha em direção ao banheiro branco. ele é frio e vazio. você liga a torneira e deixa a banheira encher até quase transbordar. mas você fecha e ela não transborda.
dentro da banheira a água está quente. o seu braço se estica e, na volta, traz com ele a lâmina, que não estava muito longe e não parece muito limpa. você olha para o retângulo prateado. procura o seu reflexo naquele pequeno espelho portátil. está embaçado.
você não está assustado. você está cansado. e com um pouco de frio conforme a água vai esfriando. você deixa que a lâmina crave sua pele desavisada que, de susto, sangra.
você sente dor. você quer ficar. mas ainda assim você morre.
nessa banheira vermelha de sonhos que te matam.