4.1.10

Namorada

Acordei cedo, pela manhã, como em toda boa segunda-feira.
Os olhos ainda grudados deixavam o sorriso vir, com jeito de quem topa o sono quando a idéia é acordar. E quando a noite passada ainda reina nos profundos do sonho.
Pelas ruas, o sol no rosto, aquele quente, de janeiro, que arde só de se saber. Que abafa o dia, acolhe a tarde e torce pela noite. Esquenta tudo. Os passos, o almoço, os medos, as sortes.
E a gente vai despertando pelo caminho, com esse calor que nos acomete nessas épocas de novo ano. Dentro e fora da gente. Um calor de começo, de planos. A ansiedade do novo "vir".
A barriga em festa pelas calçadas da crença. Os braços ansiosos, querendo tudo, podendo tudo, negando nada. Os pés infantis, trôpegos, estreiando suas novas estradas.

Essa tarde ninguém briga. Ninguém chora. Ninguém reclama da segunda-feira maldosa. Hoje ela é rainha, majestade de fino trato, digna do amor do mais reluzente dos sábados. Jogando a gente pra frente, pra dentro da semana. Ressaca nenhuma, que a gente quer mesmo esse tempo-agora. Com tudo que se tem direito, com essa cara a tapa safada que diz mesmo assim: vem, vem.

Essa tarde vesti minha saia mais bonita, minha blusa mais clara, meu rosto-novidade.
E fui pela rua, como quem não quer nada, namorando o ano novo.