14.7.09

Não se afobe, não, que nada é pra já.

Do alto do prédio eu te enxergo de costas.
Você é alto. Você sorri. Você sorri muito, muitas vezes. Como se o seu sorriso fosse sua forma de conversar com o mundo.
Você quase não fala, e quando fala o seu tom de voz é único. Quase uma cantiga, assim, no meu ouvido.
Seus movimentos são calmos. Seu corpo é preciso, desenhado. Ele tem a altura exata que me toma quando estou distraída.
E você me olha no olho. Num lugar que a gente não conhece, nem tem pressa de conhecer.
Eu fico te olhando de longe, do alto desse prédio que, hoje, me impede de chegar mais perto.
Eu observo seu caminhar, seu jeito de sentar, de olhar pra cima e pra baixo, como quem procura outro mundo. Observo seu ritmo calmo, contrário ao meu.
Te olho daqui enquanto meu corpo ferve nessa espera curiosa. Espera que eu escolhi a dedo e guardei no bolso.
Não sei quem você é. De onde vem. Eu não sei se você fala dormindo, se come carne, se gosta de vinho, se chora vendo filmes de amor, se quer filhos.
Estou do outro lado da vida que te conhece. E não quero mais que isso.
Te quero assim: logo antes de chegar. Quero sentir esse espaço que existe entre nós. Essa bolha com gosto de frio na barriga. Esse "eu" e "você", tão estranhos.
Quero sentir o instante logo antes da queda. Logo antes que eu me lance.
Logo antes que eu me jogue do alto desse prédio de onde te enxergo longe.
E aí vou. De cabeça, velocidade rápida, escuridão clara, coração na boca: eu, logo antes de ser sua.

Um comentário:

Unknown disse...

Estava assim o Bruno, entre fff..., risadas e aqula latinha quase entregue ao chão pendendo na mão, me olhando, parando tudo, e dizendo (sério?): - essa menina é muito viu?